Psiquiatria Perinatal: como te pode ajudar?

Cátia Santos
Médica Psiquiatra Perinatal at Cátia Santos • Psiquiatria e Saúde Mental Perinatal | Website | + posts
  • Mestre em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
  • Médica Especialista em Psiquiatria e Saúde Mental desde 2022, tendo realizado o Internato Médico no Hospital Garcia de Orta, em Almada.
  • Formação continuada em Gravidez e Parentalidade, Psicofarmacologia e Neurodesenvolvimento.
  • Formação psicoterapêutica em Terapias Cognitivo-Comportamentais e de Terceira Geração, Psicoterapia Interpessoal e Intervenção Psicológica no Luto Parental e Gestacional.

A tua saúde mental é a base para uma maternidade saudável e para a criação de vínculos afetivos seguros. A Psiquiatria Perinatal pode ajudar-te neste objectivo.

1. Qual a importância da Psiquiatria Perinatal?

A Psiquiatria e Saúde Mental Perinatal tem sido uma componente secundária – e até negligenciada – da saúde reprodutiva, apesar do seu impacto em termos de doença e incapacidade.

Continua presente a pressão cultural e social no sentido da gravidez como “estado de graça” e do pós-parto romantizado e idealizado, dificultando a expressão de emoções negativas e, consequentemente, a procura de ajuda profissional especializada. Para além disso, a transição para a parentalidade acarreta mudanças, desafios e tarefas desenvolvimentais, que podem constituir momentos de tensão e de enorme exigência psíquica para a mulher e restante família.

Ler também: Já planeaste o teu pós-parto?

O período perinatal representa uma fase de elevado risco para o surgimento de perturbações psiquiátricas ou exacerbação de condições pré-existentes. A doença mental perinatal não tratada associa-se a elevadas taxas de morbimortalidade materna e infantil, com grave prejuízo na qualidade de vida materna e familiar e implicações inevitáveis nas despesas em saúde. Além destes aspectos, salienta-se o efeito nefasto sobre o desenvolvimento emocional, comportamental e cognitivo do bebé e a robustez da própria díade.

E é aqui que entra a Psiquiatria e Saúde Mental Perinatal – para acompanhar, com intuito preventivo e/ou terapêutico, a saúde mental materna e ajudar a quebrar ciclos de doença que por vezes persistem ao longo de gerações.

A Psiquiatria Perinatal não se limita a prescrever medicamentos; é um espaço seguro onde as emoções são ouvidas e validadas. A natureza e a intensidade dos cuidados prestados relacionam-se com a complexidade e a gravidade da perturbação em causa. Cuidados especializados e adequados contribuem para a saúde mental das mulheres e para o bem-estar das famílias, além de permitirem a redução do estigma numa fase de vulnerabilidade acrescida.

2. Quais as principais problemáticas de saúde mental perinatal?

Baby Blues

O Baby Blues é uma resposta comum às enormes mudanças fisiológicas e sociais após o nascimento do bebé. Não é classificado como doença mental, mas é relevante por ser extremamente frequente (até 85% das puérperas).

Surge nos primeiros dias após o parto e tem duração inferior a 15 dias, com remissão espontânea. Os sintomas são ligeiros, transitórios e com pouco impacto funcional, como ansiedade, irritabilidade, choro fácil e insónia.

Não requer tratamento farmacológico. O que realmente faz a diferença no Baby Blues é o suporte emocional e prático na nova rotina com o bebé. Associa-se ao aumento da ocorrência de Depressão, pelo que a sua identificação é importante.

Burnout Parental

O Burnout Parental acontece quando se desenvolve exaustão intensa resultante do stress crónico excessivo na função parental. Pode incluir um distanciamento emocional dos filhos e uma menor realização parental.

Estão em risco pais com menor capacidade de gestão emocional e do stress; maior exigência no seu próprio papel parental; maior necessidade de apoio familiar ou social; trabalho a tempo parcial ou dedicação exclusiva a funções parentais; filhos com necessidades especiais com impacto na vida familiar.

Verifica-se uma associação entre Burnout Parental e o desenvolvimento de Depressão.

Depressão Perinatal

A Depressão Perinatal é prevalente e frequentemente subvalorizada e subdiagnosticada, afetando muitas mulheres numa fase da vida antecipada como sendo das mais felizes.

Os sintomas e sinais de alerta variam na sua intensidade, duração e tipo. Incluem tristeza, ansiedade, irritabilidade intensa, perda de prazer e interesse nas atividades, alterações do apetite e do sono, agitação ou lentificação psicomotora, apatia, cansaço fácil, sentimentos de inutilidade ou culpa, desesperança e dificuldades de concentração. Este quadro pode causar significativas repercussões na qualidade de vida, na dinâmica familiar e na interação mãe-bebé.

A Depressão Perinatal é tratável, através de intervenções psicoterapêuticas e medicamentosas compatíveis com a gravidez e a amamentação. Cada caso é único e deve ser abordado de forma individualizada.

Ansiedade Perinatal

A ansiedade é prevalente na gravidez e no pós-parto – seja sob a forma de sintomas de ansiedade (22,9%), seja cumprindo critérios para uma perturbação de ansiedade específica (15,2%).

A ansiedade apresenta um impacto muito significativo, com preocupações excessivas; medos persistentes; pensamentos intrusivos; irritabilidade; insónia; isolamento social; e dúvida e indecisão, tendo impacto na capacidade de a mulher cuidar de si mesma e do bebé.

Perturbação Obsessivo-Compulsiva Perinatal (POC)

Até 70% das mulheres com POC reportam o início da doença ao período perinatal e aproximadamente 50% das mulheres com o diagnóstico prévio de POC referem exacerbação dos sintomas na gravidez e/ou no pós-parto. Estima-se uma prevalência de 0,2-5,2% na gravidez e de 0,7-9% no pós-parto.

Os sintomas envolvem pensamentos, medos ou imagens obsessivos e rituais compulsivos, envolvendo frequentemente o bebé. Existem alguns factores de risco particulares para POC Perinatal, como história pessoal ou familiar de POC, história pessoal de Depressão, gravidez do primeiro filho, estar no 2o ou 3o trimestre de gravidez, história de perda gestacional ou complicações na gravidez e elevados níveis de ansiedade.

Psicose Puerperal

O puerpério é o período de maior risco na vida da mulher para o surgimento de um episódio psicótico. Apesar de infrequente (1-2:1000 puerpérios), é considerada uma emergência psiquiátrica, carecendo de intervenção imediata pela gravidade e pelas potenciais consequências para a mulher e para o recém-nascido.

A maioria dos internamentos por Psicose Puerperal ocorre durante as primeiras semanas do período pós-parto, sendo frequente o início do quadro clínico ainda na primeira semana.

Os sinais e sintomas podem incluir os seguintes: insónia; ansiedade; confusão; agitação; rápidas variações do humor; desorganização e/ou bizarria comportamental e do pensamento; ideias paranóides; alucinações e ausência de juízo crítico.

Existem situações médicas, de ordem física, cuja apresentação clínica podem assemelhar-se à da Psicose Puerperal, com risco também aumentado no período pós-parto como, por exemplo, Tiroidite Puerperal e Trombose Venosa Central, entre outras condições que tornam urgente a avaliação médica.

3. Será que é para ti?

A saúde mental perinatal é tão importante quanto a física, e adiá-la pode ter consequências duradouras. Se queres:

  • Estabelecer uma conexão saudável e profunda com o teu bebé;
  • Recuperar emocionalmente após o parto;
  • Evitar sentir-te sobrecarregada ou desconectada;
  • Viver a maternidade de forma plena, sem sentimentos de culpa ou insuficiência;
  • Garantir o teu bem-estar e o do teu bebé, agora e no futuro.

Então precisas de cuidar da tua saúde mental hoje.


Não esperes que a ansiedade, a tristeza ou o cansaço se tornem insuportáveis para agires.

A tua saúde mental é a base para uma maternidade saudável e para a criação de vínculos afetivos seguros. A Psiquiatria Perinatal pode ajudar-te neste objectivo.

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Médica Psiquiatra Perinatal

Cátia Santos
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  • Mestre em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
  • Médica Especialista em Psiquiatria e Saúde Mental desde 2022, tendo realizado o Internato Médico no Hospital Garcia de Orta, em Almada.
  • Formação continuada em Gravidez e Parentalidade, Psicofarmacologia e Neurodesenvolvimento.
  • Formação psicoterapêutica em Terapias Cognitivo-Comportamentais e de Terceira Geração, Psicoterapia Interpessoal e Intervenção Psicológica no Luto Parental e Gestacional.