A pensar engravidar? Dá estes 6 passos na tua carreira

Website | + posts

Tomar estas medidas agora pode fazer a diferença (pela positiva) na tua carreira depois de teres filhos.

Se estás a pensar engravidar, há uma série de fatores que deves desde já ter em consideração – especialmente no que respeita à gestão entre maternidade e carreira.

Sabemos bem que é muito difícil pensarmos mentalmente e emocionalmente com tanta antecedência! Até porque não conseguimos antever objetivamente o impacto que um filho trará à nossa vida! Quando nasce um bebé, nasce também uma mãe e, muitas vezes (senão sempre), uma nova mulher! As nossas prioridades mudam, mudamos a forma como vemos o mundo… mas os nossos próprios interesses e aspirações de carreira podem também mudar radicalmente.

Ainda assim, e mesmo sabendo que há uma margem considerável de imprevisibilidade neste processo, é importante começarmos a refletir sobre este tema logo no momento em que o tema “filhos” salta para cima da mesa.

Para te guiar neste processo, reunimos aqui uma série de medidas que te podem orientar. Tomar estas medidas agora pode fazer a diferença (pela positiva) na tua carreira depois de teres filhos.

Vale a pena o esforço!

1. Cria limites

Quando não temos filhos podemos facilmente cair na tentação de ficar no escritório até tarde, fazendo várias horas extra e mostrando toda a disponibilidade para trabalhar inclusivamente à noite e fins de semana. Confesso que eu própria fui essa pessoa.

Se tens por hábito alongar as tuas horas de trabalho e dizer “Sim” a todas as solicitações de colegas e chefias, mesmo quando tal implicará trabalhares fora do teu horário de trabalho, começa agora gradualmente mas deliberadamente a estabelecer limites. Quando te solicitarem ajuda ou te pedirem para trabalhares para além da hora, experimenta sugerir alternativas que te sejam mais favoráveis. Sê flexível, dá opções e protege o teu tempo pessoal.

Mesmo que o trabalho seja tudo para ti e que adores o que fazes, a tua dinâmica familiar vai mudar no momento em que tens um filho e, muito provavelmente as tuas prioridades também.

É perfeitamente possível que continues a adorar o teu trabalho (eu espero que sim!), mas quando colocado em perspetiva, qualquer problema no trabalho não será tão importante quanto a saúde e a educação de um pequeno ser pelo qual és responsável.

Se estás a ingressar numa nova empresa ou função, estabelece logo os teus limites com consistência, clareza e assertividade. Temos tendência a fazer o oposto nestes momentos, isto é, a mostrar que podem contar connosco e com a nossa total disponibilidade, mas devemos contrariar esse desejo de querer “dar tudo” logo desde o início, para mantermos o controlo do nosso tempo e da nossa vida pessoal e familiar.

Pode parecer estranho, mas o melhor momento para fazer isso é logo no momento de entrada, pois desta forma estaremos desde logo a educar os nossos colegas e chefias sobre os nossos limites e disponibilidade.

De igual forma, devemos também saber reconhecer e respeitar os limites das outras pessoas. Limites razoáveis são ótimos e saudáveis e somos melhores funcionários quando os sabemos aplicar.

2. Investiga a cultura da empresa

Olha agora ao teu redor. Existem muitas mães ou pais que trabalham atualmente no teu local de trabalho? E na tua equipa em específico? Se sim, espetacular! Em princípio será sempre um bom sinal teres colegas que são pais e que têm conseguido compatibilizar a sua função na empresa com a sua aventura pela parentalidade.

Caso contrário, isso pode ser um sinal de alerta ou uma oportunidade, dependendo de como encaramos a situação.

Um bom ponto de partida será começar a conversar com as mães e pais que trabalham na tua empresa para saberes algumas informações, conselhos e dicas de quem tem já essa experiência de conciliação entre carreira e família, concretamente nesse mesmo contexto laboral onde estás.

Como é trabalhar na tua empresa estando grávida? E depois, sendo mãe? Procura obter orientações sobre como esses teus colegas pais estabeleceram os seus limites entre família e trabalho; informações sobre as opções locais de berçários e creches; e opiniões sobre as áreas ou equipas que são particularmente sensíveis, empáticas e amigáveis para os pais que trabalham. Pergunta o que funcionou para eles. São essas as questões que deves tentar ver respondidas de forma autêntica e transparente, pelos colegas que vais abordar na tua empresa.

Se o teu local de trabalho não é convidativo para pais que trabalham, encorajamos-te a questionar e a conversar com a tua equipa e chefia sobre por que motivo há falta de profissionais com filhos na vossa organização. Talvez não haja flexibilidade com o horário de trabalho; talvez estejam com dificuldades a reintegrar os seus profissionais que regressam de licença parental e estes acabem por sair pouco tempo depois… entre tantas outras possibilidades. Tudo isso são informações preciosas que nós queremos ter do nosso lado, antes de constituir família e incorporar essa nova variável na nossa carreira.

Se tivermos algum tipo de poder de influência junto dos decisores da organização, podemos e devemos aproveitar a oportunidade para provocar um impacto positivo no futuro da organização, fazendo ativamente parte da mudança através da implementação de políticas e práticas que tornem a organização mais family friendly, ou seja, mais amiga dos pais que trabalham.

Se estás em situação de procura ativa de emprego e procuras uma nova oportunidade profissional, pesquisa sobre a equipa de Direção das empresas para as quais te candidatas para ver se há mulheres (e em que percentagem) nessas equipas de gestão executiva. Podes também pesquisar online para tentar descobrir alguns comentários e notícias sobre a empresa. Por último, tira partido do poder de networking: observa a tua rede de contactos. Conheces alguém que trabalha ou já trabalhou lá nessa empresa? Entra em contacto com essa pessoa e procura conversar com ela informalmente sobre a cultura e políticas da empresa em questão.

Aproveita ainda os momentos de entrevista para levantar questões que te ajudem a entender melhor a cultura da empresa. Como é um dia típico para um funcionário nesta função? Todos na equipa trabalham no escritório todos os dias? Há flexibilidade horária? Possibilidade de trabalhar remotamente ou em modelo híbrido?

Com questões deste género podemos obter pistas sobre o quão flexível e amigo da família é esse ambiente de trabalho. Além disso, podemos ainda encontrar pistas mais subtis fisicamente no próprio local de trabalho. O escritório possui sala de lactação? É comum ver fotos de família e desenhos de crianças emoldurados nas secretárias dos funcionários? Tudo isso em conjunto pode ajudar a clarificar se a cultura da empresa é, e em que medida, compatível com a parentalidade.

3. Busca por flexibilidade

De todos os fatores associados à cultura de uma empresa, a flexibilidade é, sem dúvida, um dos fatores mais cruciais e importantes para as novas mães que trabalham e, por isso, queremos destacá-lo individualmente.

Neste campo em particular, a pandemia veio dar um contributo poderoso ao acelerar e demonstrar que é possível sim trabalhar remotamente a partir de casa, sem prejuízo da produtividade. Obviamente que, pelo seu caráter e natureza, existem muitas funções onde esse cenário não é tecnicamente possível. No entanto, para todas a funções que sejam compatíveis com o teletrabalho, esta possibilidade deve ser devidamente explorada e negociada com a empresa.

E qual é o melhor momento para discutir isso? Antes ainda de teres filhos, quando estás a considerar começar a tentar engravidar, seria um ótimo momento para começares a conversar sobre esse tema com as tuas chefias. Assim podes ir explorando com tempo e ver que abertura a empresa tem sobre esse tema e que opções de flexibilidade te poderá dar no futuro.

Pode-te parecer demasiado cedo mas se discutires esse tema ainda antes de engravidares, conseguirás ter uma conversa mais descontraída, com menos pressão, do que terias se estivesses já grávida sabendo que dali a 2, 3 ou 4 meses terias um bebé nos braços.

Além disso, caso fique claro para ti que a empresa não te dará a flexibilidade que esperavas, e tendo esse conversa sido feita com antecedência, podes sempre procurar novas oportunidades no mercado, em empresas que permitem maior abertura à flexibilidade. Tudo isso será muito mais fácil se ainda não estiveres grávida.

Por outro lado, e na ótica da organização, se iniciares essa discussão atempadamente, dará à administração mais tempo para refletir sobre que opções poderão existir para ti e preparar-se adequadamente.

Mesmo que já estejas grávida, ainda vais muito a tempo de ter essa conversa franca e aberta com a empresa. Mas aconselhamos-te a que o faças o mais brevemente possível. Quanto mais cedo conversares com a tua equipa de gestão, melhor. É muito importante saber em que ponto a empresa está e com que condições poderás contar no teu regresso. Isso evitará expectativas desajustadas e só assim poderás começar a organizar a tua vida para acomodar devidamente todas essas mudanças que em breve surgirão nela.

Caso estejas em busca de novas oportunidades, aproveita as entrevistas para questionar sem receio que tipo de modelo de trabalho a empresa tem aplicado (remoto, híbrido ou presencial) e em que termos permitiria a possibilidade de teletrabalho.

Se recebeste e estás a analisar alguma proposta de trabalho, pensa além do salário. Avalia o pacote de benefícios que a empresa assegura e inclui mais alguns benefícios na negociação, como por exemplo, a possibilidade de trabalhar remotamente 2 ou 3 dias por semana. O momento da negociação de uma proposta de trabalho é um dos melhores momentos para conseguires o que desejas. Não desperdices essa oportunidade!

Ainda relacionado com a flexibilidade, importa também analisares como, onde e com quem estás a pensar deixar o teu filho quando regressares ao trabalho.

Caso tenhas de o inscrever numa creche ou berçário, deves também ter em conta que muitas instituições têm horários específicos para deixar e ir buscar a criança, havendo inclusive lugar a multas por retirada tardia das crianças. Explora desde logo a possibilidade de, por exemplo, saíres mais cedo do trabalho para poderes ir buscar o teu filho à creche, compensando com uma hora de almoço mais reduzida por exemplo. Isto remonta aos limites, que te ajudarão a proteger o teu tempo e a conseguir a flexibilidade que necessitas. Quanto mais atempadamente os conseguires negociar e estabelecer, melhor.

4. Planeia o berçário ou creche (ou outro tipo de cuidador infantil)

Quando estiveres a discutir com o teu parceiro o “projeto filho” é importante conversarem também sobre que tipo de prestação de cuidados infantis funcionará melhor para a vossa realidade e estilo de vida.

Pode parecer um pouco precoce e até assustador discutir onde e com quem vamos deixar o nosso filho se ele ainda nem sequer foi concebido. No entanto, este é um dos fatores mais decisivos e um dos grandes responsáveis por tirar as mães para fora do mercado de trabalho, ainda que temporariamente. Seja pela falta de vagas disponíveis, seja pela elevada mensalidade das poucas vagas existentes, muitas mães acabam por fazer contas à vida e decidir fazer uma pausa nas suas carreiras, para se dedicarem integralmente aos seus filhos, durante estes seus primeiros anos de vida.

Por esse mesmo motivo, é super importante planear. Até podem chegar em conjunto à conclusão de que, para o vosso caso em concreto, a melhor solução é precisamente um dos progenitores assumir integralmente o papel de cuidador durante 12, 18 ou 24 meses, por exemplo. Mas se for uma decisão bem discutida, ponderada e planeada com tempo, será sempre muito melhor. Até porque poderão beneficiar de um plano de poupança mais orientado, de utilizar subsídios sociais como a Licença Parental alargada, entre outros aspetos que poderão fazer toda a diferença.

Faz um levantamento do tipo de soluções e instituições que oferecem serviços de cuidado infantil na tua área residencial – creches, berçários, amas… todas as opções são válidas e enriquecem a tua análise e leque de opções.

Obtém informações sobre número de vagas para o ano letivo em que prevês ter de colocar o teu bebé, preçário, horários, tempo médio em lista de espera, condições das instalações, tipo de metodologia educativa, expectativas da família, existência de espaços recreativos ou jardins exteriores, entre tanto outros aspetos que vocês considerem importantes. Explora todas as opções que tens disponíveis e avalia quais delas são mais interessantes e acessíveis para vocês.

Considera também aderir a alguns grupos de mães online ou grupos locais e conversa também com família, amigos e colegas de trabalho sobre o que optaram por fazer em relação a esta matéria, que opção e local escolheram para cuidar dos seus filhos, como o fizeram, que dicas e conselhos têm para vos dar.

Uma nota adicional para os pais de primeira viagem. Por mais elaborados e detalhados que sejam os vossos planos, há um fator de grande imprevisibilidade em todo este processo: TU. Sim, os teus desejos, necessidades, prioridades e interesses podem mudar radicalmente a partir do momento que que te tornas mãe. A tua própria personalidade e visão da vida, do mundo, da carreira pode mudar muito mais do que imaginavas. E, de repente, todo o plano que delineaste pode deixar de te fazer sentido. Pode já não ser o que vocês, enquanto família, necessitam.

Por isso, considera um plano de backup, porque assim que o bebé nasce muitos fatores mudam, muitas vezes de forma inesperada e rápida. Ainda assim, se tiveres feito todo esse trabalho de planeamento com antecedência, fazer os ajustes e as mudanças necessárias não será tão assustador e não causará tanta ansiedade.

E pensa que um plano é “apenas” isso: um plano. Não é uma lei que tem de ser seguida à risca. Pode e deve ser adaptável às novas circunstâncias que forem surgindo.

5. Usa a tua rede

Investe no teu capital social. Esse esforço deve ser feito ao longo de toda a carreira e não apenas quando estás grávida ou a pensar ter um filho. Mas é especialmente importante nesta fase.

Certifica-te que tens um perfil no LinkedIn atualizado e bem estruturado. Cria conexões com antigos colegas de faculdade e de empresas anteriores, colegas atuais, clientes, fornecedores, profissionais de áreas que são do teu interesse. Retoma contactos com pessoas com quem não falas há algum tempo.

Podes amar o que fazes e adorar a tua empresa. A verdade é que as estatísticas não são preditivas do teu futuro, mas refletem tendências. E dizem-nos que uma percentagem considerável de mulheres abandonam o mercado de trabalho (ou são demitidas) depois de serem mães. Não é possível prever este tipo de situações com antecedência, mas podemos atenuar os seus impactos negativos, buscando recursos para o nosso lado que nos auxiliem na busca de novas soluções. E sem dúvida alguma que investir em capital social é um dos grandes recursos que podemos trabalhar a nosso favor.

Além disso, depois de teres um filho, podes descobrir que não estás emocionalmente preparada para o deixar com apenas 4 ou 5 meses. Podemos idealizar um plano com licença parental de 5 meses por exemplo, e perceber depois que estamos arrependidas porque não estamos preparadas para regressar ao trabalho e deixar o nosso bebé aos cuidados de alguém num berçário. É comum muitas mulheres (onde eu própria me incluo) não anteciparem isso.

Se pensares nisso como uma possibilidade, e colocares esse cenário como plano A ou mesmo como backup, podes começar a economizar ainda antes de engravidares, fazer um orçamento, organizar o vosso estilo de vida, informares-te bem sobre licenças parentais alargadas, entre outros aspetos, para poderes acomodar essa necessidade de ficares mais tempo em casa a cuidar do teu filho.

E quando te sentires preparada para regressar ao mundo laboral, podes rentabilizar as conexões que foste trabalhando antes para que te possam ajudar a voltar ao trabalho, quer isso seja retomar a posição na mesma empresa, quer isso seja abraçar um novo desafio profissional.

A importância de trabalhar a tua rede vai além da perspetiva profissional. A maternidade no mundo ocidental pode ser muito solitária e a falta de rede de apoio é uma realidade muito frequente. Então teres família ou amigos a quem possas recorrer para desabafar, tomar um café, ir ao cinema ou que possa ficar com o teu bebé por um par de horas para poderes ir a algum evento ou descansar é precioso. Investe tempo nessas relações porque podem fazer muita diferença.

6. “Cérebro de mãe?” – o impacto no desempenho profissional

É uma evidência científica que o nosso cérebro sofre alterações durante a gravidez, para concentrar uma maior capacidade naquilo que passa a ser prioritário: o bebé que estamos a gerar. Tudo o que esteja relacionado com esse tema passa a ser prioritário para o nosso cérebro. E, consequentemente, outras questões como assuntos profissionais ficam relegados para um segundo plano e o funcionamento cognitivo pode ficar um pouco mais fragilizado.

É normal que assim aconteça. O nosso corpo, as nossas hormonas e o nosso cérebro estão efetivamente programados para que assim seja.

Além disso, as exigências diárias de cuidar de um ser humano totalmente frágil e dependente podem ser inesperadas. A dinâmica familiar altera, há lugar a novas rotinas, privação de sono, expectativas diárias que têm de ser geridas, tudo isso precisa de tempo e diálogo, para que essa nova realidade seja processada e para que os novos papéis e dinâmicas possam ser ajustados e reequilibrados.

Não deixes que nada disso abale a tua confiança ou te leve a acreditar que estás menos qualificada para fazer a tua função. Apenas entende que isso pode realmente acontecer e sê gentil contigo mesma. Não é algo permanente. É apenas uma fase transitória!

E, acredita, depois de seres mãe, e quando conseguires voltar a entrar no ritmo (sim, tu vais conseguir!), tornar-te-ás uma profissional ainda melhor! Isto porque a maternidade traz consigo uma enorme bagagem de gestão de tempo, maturidade, capacidade de adaptação a um ritmo incrível, gestão de múltiplas tarefas em simultâneo, gestão de crise, inteligência emocional, equilíbrio, capacidade de prosperar no caos e na mudança, liderança. Ufa! Sim, serão apenas algumas das coisas que a maternidade (e o teu filho) te irão ensinar.

Fazer um boa reflexão e planear muito bem como o trabalho e a vida doméstica e familiar funcionarão juntos, ajudar-te-á a fazer uma transição mais tranquila e positiva para que te possas tornar uma grande working mom!

Website | + posts