Fundadora do projeto Mães às Claras.
Esta é apenas a minha história. Uma história que poderia ser contada por milhares de mulheres por todo o mundo.
Sempre senti o bichinho do Empreendedorismo. A ideia de criar um projeto próprio fascinava-me, mas as minhas motivações nunca foram suficientemente profundas e claras para avançar. Até que vivi a maior e mais intensa experiência da minha vida: o nascimento de um filho e de uma nova Marta, como mãe. Dizem que não há um momento ideal para se começar um negócio. Pois, para mim, a maternidade revelou-se como o momento perfeito para o fazer!
Queres saber porquê? Se sim, anda daí!
Reconexão, auto-descoberta e propósito de vida
A maternidade (e o seu advento de 9 meses de gravidez) é tipicamente uma fase onde nos recolhemos mais e nos tentamos conectar mais com o nosso interior, as nossas emoções, medos e sentimentos. Onde refletimos mais sobre o futuro e nos tentamos recentrar e focar naquilo que é mais importante para nós. Estamos a viver uma nova descoberta, de um amor nunca antes sentido e de um novo papel – o de mãe/pai.
Até ser mãe, apesar de não me sentir especialmente realizada profissionalmente e de nem me identificar propriamente com o status quo associado a um trabalho standard do mundo corporate, com o típico horário das 9h às 18h, acabei por me ir acomodando. As semanas iam passando, os meses lentamente lá chegavam ao fim e, com isso, o tão esperado salário lá caía certinho na conta e as férias que ansiosamente esperava todo o ano, acabavam por chegar e dar aquela injeção de motivação que muitas vezes faltava. Assim ia vivendo. O bichinho pelo empreendedorismo estava lá, mas nunca foi suficientemente inquietante para me levar a dar esse salto de coragem.
Após regressar ao trabalho, e me deparar com uma realidade muito diferente daquela que havia deixado antes de sair de licença de maternidade, senti claramente que já não pertencia àquele lugar.
Os dias fugiam-me por entre as mãos, a Clara crescia e eu sobrevivia, atropelada pelo rol de acontecimentos do dia a dia. Até que entrei em burnout… e aí percebi que tinha MESMO de mudar as coisas: parar e recomeçar!
– Marta Martins
As empresas evoluem: podem sofrer reestruturações, entram e saem pessoas, as chefias mudam, as instalações são remodeladas, e até a função pode sofrer alterações! E de repente lá estamos nós, caídas de paraquedas numa outra realidade, sem qualquer tipo de reintegração e acolhimento. Se juntarmos a essa equação, a exigência de enfrentar dias de trabalho consecutivos com privação de sono, novas rotinas que temos de encaixar nas escassas horas disponíveis do dia, o sentimento de culpa por temos de deixar o nosso filho num berçário ou creche, ainda tão pequenino e dependente, e as alterações que nós próprias também sofremos (e podem ser tantas!) é, pois, natural que aquele cenário já não nos sirva. Assim foi o meu caso.
Tudo isto me levou a questionar o estilo de vida que levava. O custo de oportunidade parecia demasiado elevado… valeria a pena todo aquele esforço? Sentia que estava a sobreviver e eu não queria que a minha filha tivesse uma mãe sobrevivente, capaz de prestar apenas serviços mínimos. Queria que tivesse uma mãe capaz de assumir as rédeas da sua vida e que fosse corajosa o suficiente para tomar as decisões necessárias que lhe permitissem viver alinhada com o seu propósito e essência; ter uma vida com sentido, realização e com um estilo de vida que lhe permitisse viver a parentalidade como tinha desejado: consciente, positiva e presente.
Estava tudo a sair ao lado. Comecei a perder o controlo da minha vida. Os dias fugiam-me por entre as mãos, a Clara crescia e eu sobrevivia, atropelada pelo rol de acontecimentos do dia a dia. Até que entrei em burnout… e aí percebi que tinha MESMO de mudar as coisas: parar e recomeçar!
Eu queria ter uma carreira, mas com equilíbrio, flexibilidade e propósito! Ainda amamentava e estava com horário reduzido, mas sabia que cedo ou tarde, passaria a ter horário completo (situação que me impossibilitaria de ir buscar a minha filha à creche em horário regular).
Foi aí que ganhei coragem e tomei a decisão de ir em frente com este projeto!
Tomei esta decisão por mim – porque encontrei neste projeto o meu propósito – mas também pela minha filha. Quero ensinar-lhe que na vida não temos todos de viver da mesma forma. Quero ensinar-lhe isto com o meu exemplo: se não estás feliz, muda! Ninguém o vai fazer por ti! Toma as rédeas da tua vida, sê corajosa e luta pelo que acreditas e te faz feliz!
Fácil? Não. Mas vale muito a pena!
O tempo ficou mais caro
É isso mesmo! O custo de oportunidade passou a ser muito mais elevado depois de ser mãe. Estar “presa” num escritório durante o dia de trabalho passou a significar perder as melhores horas de convívio com a minha filha.
Isso leva-nos a refletir se realmente vale a pena. Temos de garantir que o nível de satisfação profissional e o retorno financeiro compensam o custo de oportunidade envolvido.
Mudança de Prioridades
Ser mãe mudou todas as minhas prioridades e a forma como encaro a própria vida. Percebi que a escolha de carreira já não me impactaria só a mim, mas a toda a dinâmica familiar e, particularmente, impactaria o quão presente eu estaria no dia a dia da minha filha e o papel mais ou menos ativo que desempenharia como mãe no desenvolvimento e educação da minha filha.
Percebi que o estilo de vida e carreira que desempenhava antes passou a ser incompatível com o tipo de parentalidade que queria desempenhar e de dinâmica que queria construir na relação com ela.
Hoje, sendo empreendedora, consigo ter a flexibilidade horária e geográfica que me permite viver com qualidade e aproveitar cada dia com a minha filha.
Sou empreendedora por mim, mas também por ela. Para lhe ensinar que é possível lutarmos pela nossa felicidade, pelo que acreditamos e pelo estilo de vida que queremos ter. Fi-lo por mim, mas também por ela, para que cresça com uma mãe presente e participativa.
Lutarei diariamente, através deste projeto para que ela, um dia, não viva os problemas que a mãe viveu no seu reencontro com o mundo profissional, após viver a experiência da maternidade.
a maternidade é uma oportunidade única de reflexão, auto-conhecimento e descoberta, que estimula e dá o impulso para recomeçarmos, com sentido, propósito e em alinhamento com os nossos valores.
– Marta Martins
Não quero com isto dizer que todas as mulheres devem deixar os seus trabalhos após a maternidade para serem empreendedoras! Apenas partilhei aqui com vocês a minha experiência e o que me fez sentido a mim. Digo, sim, que a maternidade é uma oportunidade única de reflexão, auto-conhecimento e descoberta, que estimula e dá o impulso para recomeçarmos, com sentido, propósito e em alinhamento com os nossos valores. Quer isso signifique iniciar um projeto próprio, mudar de área profissional, voltar a estudar, ou simplesmente solidificar e reafirmar a certeza no percurso profissional que estamos a fazer até então.
Se sentires dúvidas ou inquietações nesta jornada pela maternidade e carreira, o meu conselho é: não desvalorizes e procura ajuda profissional! Prepara-te como te preparaste para o parto.
Ah! E nunca duvides: sim, mãe, tu consegues!
Fundadora do projeto Mães às Claras.