Já planeaste o teu pós-parto?

Sim, leste bem: planear o pós-parto! 

Sei que se fala muito do parto: da importância de te preparares para o parto, de estudares, conheceres os teus direitos e … fazeres um plano de parto!  

E atenção, eu serei das primeiras a falar disso também!

Sou uma eterna defensora do plano de parto como ferramenta fundamental até para o nosso autoconhecimento.

Mas há uma coisa importante que preciso dizer-te, a ti, que estás grávida e a começar a pensar nestas coisas: o parto é apenas um momento! Um momento muito importante, mas apenas um momento.  

Ler também: O parto é apenas o início

Já o pós-parto… bem, é um conjunto de dias, semanas, meses (até já há quem fale em anos) em que muitas e diversas coisas vão acontecer e em que vais enfrentar vários desafios e transformações.

Não é um momento. É um período que se prolonga no tempo. E é o tempo, por excelência, em que te consolidas como mãe! 

Por isso, sim, é um tempo para ser respeitado, tratado com responsabilidade e dignidade e, também por isso, pode e deve ser planeado. 

Para que serve um plano de pós-parto? 

Serve para refletir e tomar decisões em casal. Ao contrário do plano de parto que, depois de refletido e redigido será entregue a uma equipa de profissionais de saúde e/ou a uma instituição de saúde, o plano de pós-parto é um “documento” do casal.

Mais do que aquilo que está escrito, o mais importante – na minha opinião – é todo o processo de reflexão conjunta, enquanto casal, que vos vai levar a tomar decisões importantes para cada um de vocês, individualmente, mas também para a vossa família e, claro, o vosso bebé. 

A vida vai mudar quando o vosso bebé nascer! Não há a menor dúvida. Mesmo que não seja o primeiro filho, mesmo que não seja tudo novo, o dia a dia vai ficar diferente e vai necessitar de ajustes. Alguns temporários, outros definitivos.  

Claro que haverá situações que só depois do bebé nascer serão conhecidas. Mas informação e conhecimento são sempre bem-vindos e o planeamento daquilo que conseguem, desde já, antecipar, pode poupar-vos a muitas dores de cabeça e permitir-vos disfrutar de forma mais tranquila desse período tão especial das nossas vidas. Além de também vos permitir uma gestão mais eficiente do tempo e do dinheiro.

Sim, porque tomar decisões “em cima do joelho”, quando o desafio aparece, é o primeiro passo para se gastar o chamado “dinheiro mal gasto” que raramente traz soluções adequadas.

Como fazer um plano de pós-parto? 

Nos acompanhamentos que faço enquanto doula, na gravidez, proponho a todos os casais que, pelo menos uma das sessões, seja dedicada a planear o pós-parto. No final dessa sessão, desafio o casal a escrever o seu plano de pós-parto e colocá-lo num lugar visível em casa. 

Nessa sessão abordamos vários temas em conjunto. Forneço informação e oriento os casais no processo de reflexão sobre quais as decisões que fazem mais sentido para a sua dinâmica familiar e aspirações em matéria de parentalidade. 

O pós-parto não é um momento. É um período que se prolonga no tempo. E é o tempo, por excelência, em que te consolidas como mãe! Por isso, sim, é um tempo para ser respeitado, tratado com responsabilidade e dignidade e, também por isso, pode e deve ser planeado.

Patrícia Araújo

Deixo-te aqui os tópicos que normalmente proponho para reflexão para que também tu possas replicar este exercício e, com isso, viver um pós-parto mais tranquilo (e uma maternidade mais simples): 

1. Visitas ao bebé

Quem, quando, onde e, o mais importante de tudo, por quanto tempo. O pós-parto, em especial os primeiros dias, é um período muito delicado para mãe e bebé. Mas também para o pai. Proteger e respeitar esse momento é, para muitas famílias, uma das chaves para o sucesso de uma entrada na maternidade de forma mais tranquila.

• Sentes que podes estar permeável a determinados comentários e não conseguir gerir o seu impacto? Porque não adiar as visitas até te sentires emocionalmente mais segura?
• Ou, em alternativa, se ter rede de apoio é algo importante para vocês nos primeiros dias, porque não orientar a família e amigos para que as visitas, ao invés de serem momentos apenas de convívio serem momentos úteis de ajuda e apoio familiar? 

2. Amamentação

• Como queres alimentar o teu bebé?
• A amamentação é um desejo ou uma intenção?
• Estão devidamente informados sobre o que implica amamentar um bebé: em termos técnicos, claro, mas também em termos emocionais e de disponibilidade?
• Conhecem as alternativas caso algo não corra conforme planeado?
• E a quem vão recorrer caso surja algum desafio?

Estas são algumas reflexões fundamentais porque, lembra-te: agora, ainda estás com capacidade para tomar decisões ponderadas e com tempo. Na altura, com o desafio (e a criança!) em mãos, ter o discernimento para tomar a melhor decisão pode não ser tão fácil assim.

3. Sono

• Onde e como irá dormir a família?
• E onde e como irá dormir o bebé?
• Conhecem as alternativas que existem, respetivos pros e contras e recomendações dos organismos de saúde?
• Berço, co-sleeping, cama partilhada, são conceitos que dominam e sabem quais as vossas preferências?
• E quanto ao sono propriamente dito: que expectativas têm? São realistas?
• Como irão lidar caso algo não corra conforme o planeado?
• E se precisarem de ajuda, sabem a quem pedir?

4. Refeições da família

É de extrema importância que se alimentem bem no período do pós-parto. Em particular a mãe, que se encontra em recuperação.

Mas bem sabemos que planear ementas, comprar ingredientes e preparar refeições são tarefas que consomem muito tempo. Tempo esse que se torna curto, em pós-parto.

Terminar a encomendar comida, a fazer refeições pouco saudáveis ou, pior de tudo, até a esquecer-se de comer, é uma realidade muito comum.

Por isso considero que a gravidez é o momento certo para refletirem sobre o que querem comer e como podem tornar o processo mais simples: congelar refeições de antemão, encomendar marmitas saudáveis, solicitar o apoio de amigos ou familiares (deixo-te como sugestão pesquisares sobre a plataforma meal train ou o apoio de alguém que possa cozinhar em vossa casa.

Tudo isto pode e deve ser planeado agora, para que não seja uma dor de cabeça depois.

5. Rotinas familiares

• Depois das refeições o que rouba mais tempo?
• A casa e as suas rotinas: a limpeza, a lavandaria, as compras, pagar as contas ou cuidar de animais de estimação, são tarefas essenciais que continuam a ter de ser feitas por alguém! Mas que vos apetecerá tudo menos… fazê-las! Será que têm forma de aliviar a carga destas tarefas, pelo menos por umas semanas? Amigos, familiares, subcontratação de serviços.… Reflitam sobre as várias possibilidades e, claro, a vossa disponibilidade financeira para tal.
• Sem esquecer o período de internamento: quem tratará destas coisas enquanto estão no hospital?

6. Saúde, recuperação da mãe e acompanhamento do bebé

• Quem te irá acompanhar na recuperação pós-parto?
• Sabes quais as principais áreas de saúde que deves estar atenta e quais os sinais de alarme?
• Conheces as especificidades da recuperação do parto vaginal vs. cesariana?
• E se acontecer algo, a quem irás recorrer?

Importante também, em particular nas primeiras semanas, é saber reconhecer e identificar os sinais normais do chamado baby blues e despistar situações comuns, mas não normais, de depressão pós-parto.

No que respeita ao bebé, o tipo de acompanhamento de saúde que queres que tenha no primeiro ano de vida (privado, público, periodicidade, etc.) pode ser algo a decidir ainda na gravidez.

7. Direitos laborais e licença parental

• Conhecem os vossos direitos e já planearam o tipo de licença parental que pretendem usufruir?

Em Portugal não temos ainda acesso a condições perfeitas para o devido acompanhamento de um bebé no seu primeiro ano de vida. Mas existem já algumas alternativas legais que podem ser aproveitadas pelas famílias.

Algumas implicam algum tipo de prejuízo em termos de rendimento e, por isso, é importante conhecer as várias opções de antemão, para que possam tomar as decisões mais acertadas para a vossa situação particular. 

8. Parentalidade

• Que pais querem vocês ser: já pensaram sobre isso?
• Há inúmeras pedagogias, abordagens, métodos…, mas vocês, no vosso íntimo, já pensaram com que tipo de coisas se identificam? Já conversaram sobre isso? Estão alinhados?

Não menosprezem esse ponto. As expectativas que pai e mãe têm um sobre o outro, em matéria de parentalidade, são muitas vezes causa para grandes discussões ou desapontamentos. Se até hoje este ponto não está claro entre vocês, o momento é agora! E depois? Bem, depois é tempo de alinharem as vossas intenções com a restante rede de apoio (familiar e não só). Para garantir que toda a aldeia se prepara devidamente para apoiar o crescimento desse bebé.

9. Casal

• Onde ficam vocês, no meio do turbilhão? Será normal não terem o mesmo tempo, disponibilidade e vontade para vocês, enquanto casal. Mas tempo a dois não é só jantar fora num restaurante ou ir ao cinema. Às vezes – muitas vezes – é um abraço a meio do corredor, entre uma mudança de fralda e uma ida ao WC. Reencontrarem-se, como casal, no meio do turbilhão do pós-parto, será, com a máxima das certezas, um dos vossos maiores desafios. Falem sobre isso agora. Conheçam-se. Comprometam-se.
• O que acham que será importante para vocês, no momento, para recuperarem a vossa individualidade?
• O que acham que será importante, para cada um, para se sentirem amados, admirados e cuidados?

Estes temas são muito importantes. Podem parecer supérfluos, e perderem-se na loucura das 1000 coisas que ainda têm para tratar. Mas nunca se esqueçam que vocês os dois são a base da vossa família! 

Desejo-te um pós-parto leve e cheio de momentos de amor.