Preparação emocional para o regresso ao trabalho após licença de maternidade

Cátia Santos
Médica Psiquiatra Perinatal at Cátia Santos • Psiquiatria e Saúde Mental Perinatal | Website |  + posts
  • Mestre em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
  • Médica Especialista em Psiquiatria e Saúde Mental desde 2022, tendo realizado o Internato Médico no Hospital Garcia de Orta, em Almada.
  • Formação continuada em Gravidez e Parentalidade, Psicofarmacologia e Neurodesenvolvimento.
  • Formação psicoterapêutica em Terapias Cognitivo-Comportamentais e de Terceira Geração, Psicoterapia Interpessoal e Intervenção Psicológica no Luto Parental e Gestacional.

É essencial fazeres uma boa preparação emocional, pois o regresso ao trabalho após a licença de maternidade não é apenas um processo logístico, mas sim um processo emocional.

Como Gerir a Transição de Forma Saudável

O regresso ao trabalho após a licença de maternidade é um momento de grandes mudanças e desafios. Se, por um lado, pode trazer um sentido de normalidade e até de realização profissional; por outro, vem acompanhado de emoções intensas, dúvidas e exigências acrescidas.

Muitas mães sentem um misto de ansiedade, culpa e cansaço ao enfrentar esta fase. Neste artigo, exploro como te podes preparar emocionalmente, quais as estratégias para lidar com as dificuldades e quando procurar ajuda profissional.

Ler também: O 5º trimestre (aka regresso ao trabalho): o parente pobre da maternidade

A Contagem Decrescente: Gerir a Expectativa e a Ansiedade

O último mês da licença de maternidade pode ser emocionalmente desafiante. A aproximação do regresso ao trabalho pode gerar:

  • Ansiedade — Como será a separação? O bebé vai adaptar-se bem?
  • Culpa — Estarei a fazer o melhor para o meu filho?
  • Incerteza — Conseguirei conciliar tudo?

Para minimizar este impacto, é fundamental criar um plano: organizar a nova rotina, testar previamente a logística (por exemplo, experimentar deixar o bebé algumas horas com a pessoa/cuidador que ficará responsável) e falar sobre os sentimentos que surgirem.

O Peso da Carga Mental: A Dupla Jornada das Mães

A realidade profissional das mulheres ainda está marcada por desigualdades significativas. Estudos indicam que, após a maternidade, as mulheres enfrentam maior pressão para conciliar trabalho e vida familiar.

Dados Relevantes:

  • As mulheres passam, em média, 4 horas diárias em tarefas domésticas e de cuidado, enquanto os homens dedicam cerca de 2 horas.
  • 50% das mães reduzem a carga horária ou fazem ajustes na carreira, enquanto apenas 10% dos pais o fazem.
  • O impacto na progressão de carreira e nos rendimentos a longo prazo ainda é uma realidade.

Ler também: Livro Branco Projeto Merit

Este contexto agrava o stress e pode levar ao esgotamento, tornando essencial a divisão de responsabilidades e o apoio da rede familiar.

Ler também: Carga mental das mães: o pesado bastão da CEO da casa

Os Primeiros Dias: Porque São Tão Difíceis?

As primeiras semanas de regresso ao trabalho são desafiantes porque envolvem uma adaptação dupla: tanto a mãe como o bebé estão a atravessar mudanças importantes. Eis as principais preocupações das mães neste período:

  • A Separação do Bebé — Deixar o bebé na creche ou com outro cuidador pode gerar angústia e receio. Algumas mães temem que o bebé sofra ou que perca o vínculo com elas.
  • Cansaço e Privação de Sono — Muitos bebés ainda não dormem a noite inteira, e a privação de sono pode afetar a produtividade, o humor e até a saúde mental da mãe.
  • Pressão para “Voltar ao Normal” — O ambiente de trabalho pode não estar sensibilizado para as mudanças que a maternidade traz, e muitas mulheres sentem a necessidade de demonstrar que continuam tão competentes e disponíveis como antes.
  • Culpa e Sensação de Insuficiência — O medo de ser uma “má mãe” por passar menos tempo com o bebé ou de ser uma “má profissional” por sentir dificuldades na adaptação é comum.
  • Gestão do Tempo e das Responsabilidades — Além do trabalho, a mãe continua a gerir a casa, a rotina do bebé e outras tarefas. A sensação de sobrecarga pode ser avassaladora.

Estratégias para um Regresso Mais Suave

  • Planeia antecipadamente – Organiza horários, testa a rotina e ajusta expectativas.
  • Pede ajuda – Se possível, delega tarefas e envolve a tua rede de suporte.
  • Prioriza o autocuidado – Pequenos momentos para ti podem ajudar a manter o equilíbrio emocional.
  • Pratica a autocompaixão – Aceita que é normal sentir desafios nesta fase.

Ler também: 15 passos para um regresso ao trabalho mais tranquilo

Quando Pedir Ajuda Profissional?

Se os sentimentos de ansiedade, culpa ou exaustão forem intensos e persistentes, pode ser um sinal de alerta para procurar ajuda especializada em Saúde Mental.

Os sinais mais comuns incluem:

  • Dificuldade extrema em concentrar-se no trabalho
  • Choro frequente ou sensação de tristeza profunda
  • Ansiedade intensa antes de sair de casa
  • Irritabilidade excessiva
  • Sentimento de culpa incapacitante

Conclusão: Aceitação e Adaptação

O regresso ao trabalho após a licença de maternidade não é apenas um processo logístico, mas sim um processo emocional. É normal sentir dificuldades, mas isso não significa que estás a falhar.

  • A maternidade transforma-te, e isso reflete-se em todas as áreas da tua vida – incluindo o trabalho.
  • Com tempo, ajustes e apoio, vais encontrar um novo equilíbrio.
  • Lembra-te: não tens de fazer tudo sozinha. Partilha as tuas emoções, envolve quem está à tua volta e, acima de tudo, dá-te o espaço necessário para crescer nesta nova fase.

Se sentes que precisas de mais orientação, não hesites em procurar apoio especializado. A tua saúde mental e o teu bem-estar também importam.

Ler também: 20 livros para working moms

Cátia Santos
Médica Psiquiatra Perinatal at Cátia Santos • Psiquiatria e Saúde Mental Perinatal | Website |  + posts
  • Mestre em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
  • Médica Especialista em Psiquiatria e Saúde Mental desde 2022, tendo realizado o Internato Médico no Hospital Garcia de Orta, em Almada.
  • Formação continuada em Gravidez e Parentalidade, Psicofarmacologia e Neurodesenvolvimento.
  • Formação psicoterapêutica em Terapias Cognitivo-Comportamentais e de Terceira Geração, Psicoterapia Interpessoal e Intervenção Psicológica no Luto Parental e Gestacional.