Promover o bem-estar: dicas práticas para pais e líderes organizacionais

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Fundadora do projeto Mães às Claras

Quer sejas pai/mãe e/ou líder, tens nas mãos a oportunidade de influenciar e impactar, não apenas o teu próprio bem-estar, mas o de muitos pais e mães que virão depois de ti.

Esta é, para mim, uma das coisas mais incríveis e poderosas que as working moms têm nas suas mãos: a possibilidade de fazer acontecer mudança, real e concreta, na empresa onde estão a trabalhar!

De abrir caminhos até então fechados, de testar e provar que, com confiança mútua, responsabilidade, empatia e profissionalismo, é possível darmos retorno à empresa e, simultaneamente, beneficiar de condições de maior flexibilidade.

Falta de tempo e cansaço dos pais comprometem direito da criança a brincar

Começo por aqui: As famílias portuguesas têm casa vez menos tempo para brincar com os filhos. Mais de metade das crianças em Portugal – 52% – brinca menos de uma hora por dia com a família, segundo indica um estudo nacional promovido pelo Instituto de Apoio à Criança (IAC).

Os dados evidenciam um cenário ainda mais preocupante: apenas 9% das crianças têm entre duas a três horas de brincadeira diária em família.

Os dados, recolhidos junto de mais de 1.100 famílias, vêm confirmar uma situação preocupante sobre o cumprimento do direito da criança a brincar – essencial ao desenvolvimento infantil, mas cada vez mais posto em causa pela pressão da vida quotidiana.

Entre os principais obstáculos apontados está a exaustão dos adultos devido à carga laboral e a falta de tempo livre, conforme destaca esta notícia da SIC Notícias.

Divulgado por ocasião do Dia Mundial da Criança, este estudo vem reforçar a importância de políticas que garantam o direito das crianças a brincar, num contexto em que esse direito continua ameaçado pelo ritmo de vida dos adultos.

Bem-estar: o elemento que potencia a nossa melhor versão, em casa, no trabalho, em todo o lado!

A verdade é que as famílias vivem numa luta diária de conciliação de agendas: horários das aulas, buscar e levar os filhos, atividades extra-curriculares, horários de trabalho e reuniões, viagens de trabalho, entre outras potenciais tarefas ocultas, como preparar lancheiras e jantares.

Tudo isto com uma retaguarda cada vez mais pequena ou mesmo inexistente…

Bem, as mães geralmente sabem, antes de “fechar contrato”, que este tremendo papel de “MÃE” não é fácil e implicará muitas mudanças nas suas vidas.

Sabemos que as experiências, tanto as mais desafiadoras como as belas e maravilhosas, deixam marcas nos nossos corações e nas nossas mentes.

Não há dúvidas de que estamos também a criar a próxima geração de agentes de mudança, políticos, gestores, artistas, construtores da sociedade e da civilização do futuro: estamos a ajudar a construir a identidade de quem vai moldar e construir o futuro! Quão assustador e ao mesmo tempo poderoso é isto?!

Os nossos filhos olham para nós e para o mundo ao seu redor com curiosidade, intriga e admiração ilimitadas, para ver como o mundo funciona, como tratamos os outros e como nos tratamos a nós mesmos. E é incrível a capacidade de observação deles! Captam tudo! Somos a grande referência e modelo deles e, se estivermos atentos, percebemos como eles nos tentam imitar, nas pequenas coisas do dia-a-dia.

Mas quando falamos de bem-estar e de uma melhor conciliação entre parentalidade e carreira é crucial que os sistemas de apoio, como as organizações para as quais trabalhamos, entrem em cena, com políticas que ajudem a reter e a nutrir os seus talentos, as suas equipas, o seu capital humano.

Conseguir extrair o melhor das suas pessoas, dos seus colaboradores, só é possível quando estes se encontram bem, física, emocional e psicologicamente. Então, garantir o bem-estar dos colaboradores é, em última análise, garantir que estamos a potenciar os talentos que temos dentro de portas e o contributo destes para a organização.

Aqui estão algumas dicas práticas que podem ser de grande utilidade para pais e organizações.

Pais: 5 Dicas que promovem o vosso bem-estar

1. Caminhada diária ao ar livre

Há enormes benefícios potenciais para a saúde ao dedicarmos apenas alguns minutos por dia a desconectar do digital e a passar tempo ao ar livre: redução da ansiedade e depressão; maior clareza; criatividade; maior saúde cardíaca; entre outros benefícios. Pessoalmente, uma coisa que adoro fazer e sinto que me faz muito bem, é ir com a minha filha ao parque, quando a vou buscar ao infantário. Fica a caminho e bastam 20-30 minutos para termos ali uns momentos de brincadeira juntas, ao ar livre!

2. Encontro mensal ou trimestral / escapadinhas de fim de semana

É aqui que entram os avós! Na ausência deles, ou de qualquer outro tipo de rede de apoio “gratuita” (tias, amigas, primas, vizinhas, etc.), podes considerar a hipótese de contratares uma babysitter de confiança. Escapadinhas de fim de semana podem ser mais difíceis para a maioria dos casais, principalmente se não tens rede de apoio. Mas, se conseguires deixar os teus pequenitos com os avós, uma escapadinha de fim de semana, pode ser algo precioso e revigorante.

Quer vás sozinha ou com o teu parceiro, veste-te, arranja-te e vai jantar fora, beber um copo, ir ao cinema, ver um concerto… o que seja! Ou simplesmente, dá uma caminhada ou vai até uma esplanada para refletires um pouco e reservares um tempo para ti mesma. É importante. Coloca-te na agenda, como diz a Paula Costa, fundadora da Yes Mom You Can!

3. Pedir ajuda e delegar

Esta é a mais difícil de todas! Mas é importante deixarmos cair esta ideia de que temos de dar contar “de tudo”. Ser mãe é o trabalho mais exigente do mundo. Nunca foi, não é, e não será suposto algum dia, fazê-lo sozinha, sem ajuda. Mais ainda, quando concilias isso com um projeto profissional. Aprender a pedir ajuda e delegar é essencial para nos mantermos saudáveis.

4. Deixar cair a capa de super-mulher

Eu aprendi esta à força, com um burnout e outras complicações de saúde pelo caminho. Mas o pior que podes fazer a ti mesma é tentares ser uma super-mulher e uma mãe perfeita. Essas expectativas que a sociedade nos lança são irreais. Concede a ti mesma espaço para errares, para falhares. É importante para ti e para o teu filho também, conforme refere a psicóloga e psicanalista Flávia de Carvalho, neste seu artigo recentemente publicado aqui no portal Mães às Claras.

5. Negoceia flexibilidade e compreensão

Todos nós queremos ter uma ótima liderança que entenda as necessidades, os desafios e o contexto de um pai/mãe trabalhador(a). Mas a verdade é que eles podem não entender (porque não são pais, ou têm filhos mais crescidos e, por isso, já viveram esta realidade há uns bons anos), e não vão ler a tua mente.

Então, se possível, negoceia a flexibilidade que precisas e alguma compreensão/empatia. Talvez seja pedir para entrar um pouco mais tarde, ou para não te marcarem reuniões logo às 9h, para poderes acomodar melhor os horários de deixar o teu filho na escola… o que quer que seja, só saberás se perguntares! É algo que nunca foi feito antes na empresa? Pede para fazerem um teste experimental. Funciona? Perfeito, pode ser replicado por outros colaboradores! Não funcionou? Tentaste!

Nota: existem também direitos que tens ao teu dispor enquanto mãe/pai. Investiga, informa-te bem, porque também os podes ativar!

Empresas: 5 Formas de promover o bem-estar dos pais e mães que trabalham

1. Flexibilidade, flexibilidade, flexibilidade

Se tiverem pais na vossa equipa, avaliem como podem refinar a vossa abordagem para garantir uma melhor inclusão de toda a equipa. Talvez isso signifique atrasar uma hora a reunião semanal de equipa, ou permitir que o membro da equipa saia mais cedo e compense depois esse tempo à noite. Estudem a melhor forma de incorporar e implementar na vossa organização um modelo de trabalho flexível. Questionar, através de um inquérito anónimo, a melhor forma de oferecer flexibilidade a todos os seus colaboradores, pode ser uma excelente ferramenta para fazer essa análise.

2. Mentoria para working moms

Quer seja recorrendo a colaboradoras mães que já viveram este processo com sucesso, quer seja recorrendo à contratação de serviços externos especializados, oferecer às colaboradoras mães, que estão a regressar ao trabalho depois de licença de maternidade, um programa de mentoria, vai ajudá-las a viver essa transição tão desafiante, de forma mais segura, tranquila e confiante.

Uma mentoria especializada na conciliação entre maternidade e carreira pode fazer a diferença entre um caminho de enorme turbulência (que poderá culminar num burnout, depressão e até no pedido de demissão de uma colaboradora de grande valor e potencial para a empresa), ou um caminho que, apesar de desafiante, consiga trazer o melhor das novas skills que esta colaboradora (agora mãe) desenvolveu com a maternidade, potenciando assim a sua performance na empresa.

Ler também: Como uma mentora de working moms pode fazer a diferença na tua carreira

3. Inclusão e pertença

Existem inúmeras maneiras de construir confiança e promover uma cultura inclusiva para os pais, desde oferecer flexibilidade (again), alertar as equipas sobre “eventos noturnos” com uma (ou mais) semanas de antecedência, garantir que os pais e mães que estão a regressar das suas licenças vivam um processo respeitoso, em que são tidos em conta, ouvidos e, idealmente, acompanhados durante os primeiros tempos de regresso, através de programas de reintegração, devidamente desenhados para esta fase de transição específica.

É importante termos noção de que eles até podem voltar para a mesma função, mas não vão voltar para a mesma empresa (pelo menos, quando falamos de grandes empresas, com um ritmo de mudança acelerado). Então, vamos assumir esse compromisso de reintegrar, reacolher, conhecer aquela nova pessoa e profissional que ali está a chegar à empresa.

4. Programas de bem-estar que tenham em conta (também) as necessidades dos colaboradores pais

Explorem os vossos programas atuais de benefícios de bem-estar e avaliem o quão abertos ou viáveis são para os pais que trabalham terem a possibilidade de poderem deles usufruir. Por exemplo, uma happy hour ao final da sexta-feita é incrível para a malta jovem solteira! Mas terá uma grande participação dos colaboradores pais? Não me parece.

Soluções standard deste tipo de programas podem ser pouco eficazes e gerar um amargo de boca em alguns colaboradores que se ficam a sentir excluídos e desvalorizados. Pessoas diferentes têm necessidades diferentes e valorizam coisas diferentes. Quando estiverem a desenhar ou a implementar programas de bem-estar, analisem bem que benefícios vão disponibilizar, de forma a garantir que todos os colaboradores possam deles beneficiar e retirar um valor homogéneo.

Ler também: Licença parental não chega: 5 práticas que as empresas podem implementar para apoiar os pais

5. Abordar o enviesamento parental e de género

Considerem incorporar formação ou conferências para toda a empresa e para as equipas de gestão em particular, que destaquem e explorem as formas como o enviesamento impacta os pais trabalhadores (e em particular as mães), e métodos seguros para líderes e funcionários reconhecerem e abordarem o viés parental quando observado pessoalmente ou nas suas equipas.

Por exemplo, se tiverem um cargo ou uma tarefa que possa exigir mais algumas horas, e considerariam a pessoa se ela não fosse pai/mãe, não deixem de lhe apresentar a oportunidade. Depois fica do lado dela aceitar ou não. Mas não deixem de lhe apresentar esse desafio, pensando que a estarão a ajudar mais dessa forma… Considerem oferecer-lhe a oportunidade de poder escolher. Certamente ela valorizará isso.

Artigo inspiração em: Empowering well-being: Practical tips for parents and organizational leaders

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