A planear um bebé? Segue estes 9 passos para teres um bebé com segurança financeira

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Fundadora do projeto Mães às Claras.

A parentalidade é uma aventura cara. Prepará-la bem dar-te-á maior tranquilidade para entrares nela com o pé direito e teres um bebé com segurança financeira.

O sentido, propósito e amor que um filho traz às nossas vidas é inigualável!  

Mas, quer estejas a planear cuidadosamente uma gravidez, quer esta tenha surgido de forma totalmente inesperada, é altamente recomendado que faças uma boa análise financeira atual e te organizes financeiramente para poderes receber esse teu bebé de forma tranquila. 

A verdade é que a tua vida nunca mais será a mesma depois de um filho… nem os teus extratos bancários! 

Pois é, com o “positivo” do teste de gravidez vem toda uma lista de despesas que se vai acumulando e sucedendo.  

Começa logo por aquela primeira consulta pré-natal e, em princípio, estender-se-á até à conclusão da licenciatura ou até à entrada no mundo profissional (mais de duas décadas portanto!). 

Desde as fraldas ao leite, passando pelo berço e muda-fraldas, roupas, carrinho de passeio, brinquedos, até às mensalidades da creche, atividades extra curriculares, seguro de saúde, festas de aniversário, visitas de estudo, campos de férias, semanada e mesada…

tudo somado, a parcela que os filhos consomem no orçamento familiar pode ser bastante considerável. 

Além disso, à medida que a família cresce, aumentam também as despesas fixas a nível doméstico, como eletricidade, gás, água e supermercado são, tipicamente, algumas das rubricas que disparam.

Mas e quanto custa ter um bebé afinal?

Se atendermos apenas ao investimento inicial – compras necessárias durante a gravidez e o primeiro ano de vida do bebé – um estudo de 2020, realizado pela Picodi, aponta para um valor em torno dos 3.470€. Isto considerando apenas um kit básico, sem extras e opções mais dispendiosas de produtos de puericultura por exemplo. Podem consultar aqui o estudo com maior detalhe.

Também segundo dados publicados em 2023 pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o primeiro filho resulta num aumento médio de 20% da despesa mensal da família nos primeiros seis meses após o nascimento, quando comparado com o período anterior ao início da gravidez.

Este aumento da despesa mensal agregada deve-se, “essencialmente, ao aumento médio de 52% nas despesas no setor do retalho, 36% na saúde, 16% na eletricidade e gás e 9% na água“, indica o gabinete estatístico. 

Se quisermos ter uma visão mais alargada e de longo prazo do impacto financeiro de ter um filho, de acordo com um estudo de 2013, levado a cabo pelo Centre of Economics and Business Research para a seguradora Liverpool Victoria, no Reino Unido, o custo global de criar um filho até aos 21 anos ascende a cerca de 283 mil euros. 

Um outro estudo, divulgado em Espanha pela organização de consumidores CEACCU, revela que cada filho custa em média entre 98 e 310 mil euros, até aos 18 anos. 

Por cá, temos também um estudo da Universidade de Coimbra, coordenado pelo psicólogo Eduardo Sá, embora já realizado em 2008. De acordo com as suas conclusões, os pais portugueses de classe média gastam em média entre 236 e 678 euros por mês com cada filho (até aos 25 anos), em fraldas, médicos, comida, roupa, desporto, livros, propinas e mensalidades escolares. 

Assustada com estas estatísticas? 

A verdade é que ter um bebé pode causar um choque financeiro nas finanças pessoais de uma família, MAS ter essa consciência e saber planear bem e atempadamente o esforço financeiro extra que será necessário, poderá fazer toda a diferença.

Para te ajudarmos nesta missão agregamos aqui uma lista de tarefas de planeamento financeiro que te podem ajudar a suavizar esta transição:

1. Unir esforços em equipa

Um excelente ponto de partida é termos consciência que a vida está prestes a mudar a vários níveis, mas de forma muito especial ao nível financeiro.

Ter um filho é um “projeto de vida” de longo prazo, que implicará várias alterações (muitas vezes até do próprio estilo de vida) e muitas despesas extra. O ideal é organizarem-se para poderem enfrentar este desafio financeiramente juntos.

Portanto, e se ainda não é uma realidade no vosso caso, considerem criar uma conta conjunta para esta finalidade, colocando mensalmente um valor previamente acordado entre ambos, que será utilizado para fazer face a todas as despesas associadas à gravidez e ao bebé ou, alternativamente, podem ir dividindo as contas que forem surgindo, evitando algum tipo de mal-estar ou discussão na relação.

2. Fazer um diagnóstico da situação atual (habitacional, profissional, financeira, rede de apoio disponível) e criar um orçamento acautelando as necessidades extra que um bebé trará à vossa vida

Comecem por discutir exautivamente como seria a vossa vida com um bebé e o que precisariam de mudar na vossa dinâmica atual.

  • A casa atual é suficiente para acomodar a chegada de um bebé ou é necessário uma casa com mais espaço?
  • Se for necessário mudar de casa, que tipo de casa vocês conseguiriam pagar? Em que local vos faria mais sentido?
  • Têm pais ou outros familiares por perto e disponíveis para vos auxiliar nos cuidados ao bebé?
  • Se essa não é uma possibilidade, a ideia seria um de vocês assumir temporariamente os cuidados com o bebé alargando a licença parental ou mesmo suspendendo temporariamente a carreira? Ou investir num bom berçário ou creche?
  • Têm um carro suficientemente confortável e seguro para transportar o vosso bebé?
  • Têm uma situação financeira estável? Alguma dívida a pagar? Conseguem poupar mensalmente um valor relativamente estável? Como está o vosso fundo de emergência?
  • Como está a vossa situação profissional? Têm vínculos contratuais seguros? Sentem-se bem nos vossos trabalhos atuais ou estão à procura de uma nova oportunidade? Algum de vocês está desempregado? Ou é trabalhador independente e tem maior instabilidade de rendimentos?

Tudo isto são questões que devem ser debatidas, analisadas e projetadas para que as novas necessidades sejam, na medida do possível, previamente acauteladas e protegidas, evitando surpresas e taxas de esforço financeiro muito elevadas no futuro.

Após refletirem sobre isto criem ou atualizem o vosso orçamento, simulando todas as despesas extra e novas rubricas que vão nascer com o surgimento de uma gravidez e de um bebé.

Simulem, pratiquem esse vosso novo orçamento familiar, percebam qual será a vossa taxa de esforço e poupem no que conseguirem economizar.

3. Analisar os custos dos serviços pré-natais

Este ponto está muito relacionado com o seguinte. Quando estamos a pensar engravidar é importante começarmos a refletir sobre o tipo de acompanhamento pré-natal que queremos garantir.

Podemos optar por um acompanhamento mais simples, recorrendo exclusivamente aos serviços garantidos pelo SNS (para quem tem um bom médico(a) de família e um centro de saúde que dá resposta adequada, o SNS garante um bom acompanhamento).

Pessoalmente optei por um acompanhamento misto entre SNS e privado, mas avalio de forma muito positiva o acompanhamento que recebi pelo Serviço Nacional de Saúde, tendo inclusivamente optado por fazer o Curso de Preparação para o Nascimento através do SNS, curso esse que foi bastante completo e muito atual.

Caso entendam que a melhor solução para vocês passa por um acompanhamento exclusivamente via SNS, essa decisão obviamente reduzirá de forma muito significativa as vossas despesas com saúde na gravidez. Isto porque todo esse acompanhamento será tendencialmente gratuito (terão apenas de suportar alguns custos relacionados com vitaminas pré-natais e pouco mais).

Por outro lado, se preferirem ou tiverem a possibilidade de complementar esse acompanhamento, nomeadamente recorrendo a consultas de obstetrícia, exames complementares não comparticipados pelo SNS, Cursos de Preparação para o Parto fornecidos por alguma entidade privada, consultas de amamentação, entre outros serviços, será então altamente recomendado garantirem que têm um bom plano de seguro de saúde (o que nos leva ao ponto seguinte).

4. Criar seguro de saúde (se ainda não tens e vos fizer sentido)

Se já tens seguro de saúde, analisa bem o que o teu seguro atual cobre e o que não cobre.

Claro que podes sempre optar por fazer todo o acompanhamento única e exclusivamente pelo Serviço Nacional de Saúde, evitando esse ónus extra do seguro de saúde.

No entanto, caso pretendas ter um acompanhamento mais contínuo e especializado com um médico(a) obstetra, e eventualmente, sessões de fisioterapia pélvica, exames e análises complementares que não sejam comparticipadas pelo SNS, consulta de amamentação, parto num hospital privado, etc. ter um bom seguro de saúde permitir-te-á poupar significativamente.

Se o teu atual plano de seguro precisar de melhores coberturas face às necessidades e escolhas que prevês fazer para esta fase, considera alterá-lo o quanto antes porque existem períodos de carência para as novas coberturas que, no caso do Parto, é por norma de 360 ou 365 dias.

Isto significa que precisas de constituir o teu seguro de saúde (ou adicionar a cobertura de Parto ao teu atual plano) com mais de 1 ano de antecedência para poderes usufruir da cobertura de Parto.

Tem ainda em atenção que, mesmo com cobertura de Parto, podes ter de pagar do teu bolso uma percentagem do valor (copagamento). Esse valor dependerá do tipo de seguro e cobertura que tens, da franquia (caso exista) e se o prestador do serviço está dentro ou fora da rede.

5. Aceitar e rentabilizar ajudas

Faz uma lista de todos os itens que precisas de comprar para o enxoval do bebé. Vais perceber que existem itens mais económicos, outros que implicam um grande investimento inicial (como a cadeira auto, o berço e o carrinho de passeio).

É verdade que as fraldas acarretam um enorme investimento, mas tem a vantagem de ser uma despesa diluída ao longo do tempo.

Já os artigos de puericultura como a cadeira auto implica logo uma grande despesa num único momento.

É preciso haver muita cautela e ginástica orçamental para acautelarem essas despesas extra de maior valor sem entrarem num grande stress financeiro.

A minha recomendação aqui é: usem e abusem da vossa família e amigos.

Nem tudo precisa de ser novo. Falem com amigos ou familiares que tenham crianças pequenas e vejam se têm disponível para emprestar um berço, roupinhas, carrinho de passeio ou mesmo a cadeira para refeição do bebé.

Muito provavelmente não só emprestarão com imenso gosto, como ainda agradecerão o favor que vocês lhes estão a fazer por ficarem com um pequeno “monstrinho volumoso” que lá tinham parado em casa!

Aproveitem também momentos como baby showers para partilharem uma lista de desejos cuidadosamente pensada. Podem optar por incluir itens mais dispendiosos que possam ser oferecidos em grupo, aliviando assim o vosso esforço financeiro e provavelmente evitando prendas duplicadas ou excesso de roupinhas que mal serão usadas.

6. Fazer escolhas informadas e compras conscientes e estratégicas

Sabemos que o mercado de puericultura está recheado de coisas maravilhosas que nos fazem facilmente perder a cabeça, principalmente quando somos mães de primeira viagem.

Mas é realmente importante controlarmos os nossos impulsos e sermos consumidores inteligentes.

A tentação é grande, mas é importante resistirmos e dedicarmos um bom tempo a pesquisar, comparar marcas e diferentes opções, ver histórico e comparador de preços (para garantir que estás a comprar ao melhor preço) e pedir opiniões a algumas amigas mães, que já passaram por essa experiência.

Este trabalho deve ser feito para a generalidade dos itens mas, de forma muito particular, para aqueles que acarretam um maior investimento ou são especialmente importantes, nomeadamente do ponto de vista da segurança, como é o caso da cadeira auto.

Reflitam bem sobre os itens que são verdadeiramente essenciais e concentrem mais esforços nesses. É extramente comum comprarmos coisas que percebemos depois serem totalmente inúteis e desnecessárias.

Devemos optar por priorizar equipamentos e produtos seguros, resistentes, práticos e evolutivos que podem acompanhar o crescimento do bebé, e deixar para segundo plano as questões de design e funções extra XPTO, que provavelmente nunca usarás. Keep it simple.

7. Proteger o amanhã dos nossos filhos (e uma eventual ausência inesperada nossa)

Nem sequer queremos imaginar remotamente esse cenário (e esperamos que nunca seja necessário utilizá-lo) mas a verdade é que, se algo acontecer connosco ou com o nosso parceiro(a), vamos desejar que os nossos filhos estejam financeiramente seguros e protegidos.

Por mais que não queiramos pensar nisso, em caso de morte, invalidez ou doença grave, uma apólice de seguro de vida proporcionará maior tranquilidade.

Além disso, podem aproveitar também para reorganizar a informação das vossas contas bancárias e investimentos, de forma a que, em caso de alguma fatalidade, tenham a informação bem organizada e estruturada para mais facilmente ser gerida depois pela pessoa que vier a ser designada como cabeça de casal.

8. Criar o plano de licença parental e o plano ”Back to Work

Conselho de amiga: faz deste ponto uma das grandes prioridades e investe um bom tempo a planear a vossa licença parental, o vosso plano de pós-parto e o plano de regresso ao trabalho.

Procura um bom profissional especialista em Direito do Trabalho (sugiro aqui que acompanhes o incrível trabalho que a Marta Esteves tem feito nesta área) e explora em detalhe todas as opções e direitos que existem e que podes exercer.

Vejam a opção que vos faz mais sentido, considerando toda a vossa dinâmica e realidade familiar:

  • rede de apoio familiar
  • realidade e contexto profissional de cada
  • situação financeira
  • opções de creches disponíveis na área de residência ou de trabalho (ou falta delas)

Este ponto é particularmente relevante porque além do elevado peso orçamental que implica, acresce também a (ainda) mais elevada dificuldade em conseguir vaga.

Aconselho que comecem mesmo a explorar opções durante a gravidez (o mais cedo possível), caso pretendam vaga para berçário ou para a sala de 1 ano.

Verifiquem também se as opções que estão a contactar são instituições aderentes ao programa Creche Feliz. Se assim for, e tiverem a sorte de encontrar vaga, poderão conseguir gratuitidade na creche.

Comparem bem os preços das várias opções e os serviços incluídos em cada, para poderem tomar a melhor decisão (não estou aqui a considerar outros aspetos que são obviamente importantes na análise, como as condições das instalações, o tipo de abordagens educativas, existência de espaços ao ar livre, etc.)

Mas este é mesmo um aspeto crítico que pode impactar a vossa decisão da escolha de licença parental que melhor servirá ao vosso caso.

Por isso, mais uma vez, comecem a ver opções de creches com a maior antecedência possível e informem-se junto de um especialista de Direito do Trabalho sobre todos os vossos direitos e opções possíveis para a vossa licença parental.

Tudo isto deve ser tido em conta e analisado ao detalhe com a maior antecedência possível.

O regresso ao trabalho é um dos aspetos mais negligenciados pelos pais, que se apercebem, muitas vezes demasiado tarde, da sua importância, provocando frequentemente impactos negativos a vários níveis: mental, profissional, financeiro e parental.

Informação é poder. Informa-te, planeia e prepara um regresso ao trabalho gentil, com tempo, respeitando os teus sentimentos, cuidando de ti e garantindo as melhores soluções possíveis para a vossa família.

Ler também: A pensar engravidar? Dá estes 6 passos na tua carreira

9. Criar uma conta poupança para o bebé

Com o nascimento do bebé considerem abrir uma conta poupança para o vosso filho.

Sabemos que as despesas de curto prazo são já muito pesadas mas é importante irmos acautelando também (e na medida das nossas possibilidades) as despesas futuras que ocorrerão ao longo da sua infância, adolescência e juventude.

Podem acordar entre ambos transferir mensalmente uma pequena quantia para essa conta poupança (por pouco que seja, ao final de 18 anos fará muita diferença…)

Além disso, podem também decidir transferir todo o dinheiro que forem recebendo com prendinhas de familiares (nos aniversários, Natal, Páscoa, batizado, etc.) para essa mesma conta poupança. Tudo a somar, dará certamente uma boa almofada financeira para os tempos da faculdade, por exemplo.

Reflexão final:

A parentalidade é uma viagem maravilhosa mas implica um esforço financeiro muito significativo.

Claro que em todos os aspetos podemos optar por opções mais ou menos dispendiosas (gratuitas até em vários casos). Mas implicará forçosamente sempre um acréscimo financeiro ao vosso atual orçamento.

Ter essa consciência e prepararmo-nos bem e atempadamente permitirá uma entrada nesta aventura com o pé direito e com maior serenidade.

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